terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Falar, Ouvir, Entender e Ser Entendido

Baseio-me, em partes, no material trazido à tona pela profª Magda Soares, docente da UFMG, no livro Linguagem e Escola: uma Perspectiva Social. Neste estudo Magda fala sobre o fracasso escolar no Brasil, atribuído de forma enfática à distância existente entre a linguagem das camadas populares e a linguagem da classe dominante. Para ela, a escola tem por padrões a linguagem da classe detentora do poder econômico e, em momento algum, há um movimento para adaptá-la ao aluno das classes menos privilegiadas. Esse fenômeno acaba gerando falta de proximidade e sentido ao aprendizado. É um tema que, para mim, não é pertinente somente ao sistema educacional, mas à vida em si.

Não vou me ater à realidade nacional, por isso vou transpor tudo para o território de São Paulo. É fácil convir que a cidade em questão seja dividida em alguns mundos, onde questões culturais, sociais e lingüísticas demarcam suas fronteiras. Enfim; é difícil supor que exista uma unidade integradora nas relações que permeiam a convivência entre tais “mundos”.

Falar, ouvir, entender e ser entendido, na verdade, é um desafio. A problemática, no entanto, está na tentativa errante de aplicar conceitos de um mundo X num mundo Y. Os sucessivos fracassos da escola, da publicidade, da música e de tudo mais que tenta adentrar na realidade dos que possuem menor poder aquisitivo podem ser atribuídos a uma tentativa inútil de sobrepor uma cultura a outra. E isso ocorre porque uma minoria, que tem grande poder econômico, também detém os padrões disseminados pela mídia. Vivemos, por exemplo, em convívio direto com padrões estéticos que não condizem com a nossa própria genética. Se pegarmos o percentual de negros e pardos no distrito do Capão Redondo, temos 60% da população com estas características. Em contrapartida, quantos negros ou pardos figuram em telejornais ou propagandas? (Ouça link ao final e confira a seguinte informação: Não há presença de apresentadoras negras ou pardas em programas televisivos infantis!). No campo do ensino, percebemos que “a escola enquanto instituição mantém a mesma ossatura rígida e excludente já faz um século. Continua aquela estrutura piramidal, preocupada apenas com o domínio seriado e disciplinar de um conjunto de habilidades e saberes” – Miguel G. Arroyo, professor da UFMG. Temos lhe dar com proposições distantes do nosso cotidiano, que nos empurra uma cultura que se impõe a nossa. Não temos exemplificações da utilidade de um bom ensino, já que o mercado de trabalho também transborda preconceitos de todas as formas.

Voltemos então para a divisão dos “mundos” paulistas: o que ocorre é que nem sempre há uma vontade alheia de se ouvir e entender. Se não podemos contar com políticas públicas que nos assegurem a igualdade de vozes, as instituições privadas contribuem para a manutenção de uma cultura da exclusão: Os jovens formados no ensino público e jovens afro descendentes são os que mais sofrem com o desemprego nestas instituições, somando 23,8% de acordo com o IBGE.

Outro ponto de análise que prega a manutenção da cultura dominante é o fato de o marketing, a propaganda e a mídia funcionam como grandes formadores de opinião. Entretanto, devemos ter cuidado com a inversão de nossos valores e necessidades. Se por um lado queremos um mundo que nos ouça e respeite, é imprescindível que não nos deixemos dominar por agrados supérfluos. Se quisermos ser ouvidos e entendidos, precisamos saber falar e entender a nossa própria identidade.

Tendo como foco o apresentado acima, é fácil identificar tamanha dificuldade comunicacional entre os mundos paulistas: Há uma disparidade enorme na participação no jogo que envolve o falar, ouvir, entender e ser entendido, sendo que, da forma que se configura, o direito a expressão é totalmente cerceado. Neste diálogo de apenas uma voz, por enquanto vamos contando somente com os ouvidos...

Link:http://www.redebrasilatual.com.br/radio/programas/jornal-brasilatual/negros_visibilidade_comunicacao_trabalho.mp3/view

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