terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A espera de um milagre

Estamos cá, outra vez, à beira de outro verão no hemisfério sul. O que esperar deste período? Depende. Pode ser o sol escaldante que lota piscinas e praias durante as férias dos “abonados”. Ou, quem sabe, o transtorno de sempre causado por enchentes homéricas. Preste atenção no termo “sempre”. Você conhece essa história?

É inevitável, ao mesmo tempo imprescindível, notar o descaso do poder público para com a situação. Uma matéria da “Carta Capital” nos trouxe um ponto crucial para o entendimento sobre a falta da intervenção dos governos para prevenção às enchentes: “... o prefeito Gilberto Kassab (PSD) admitiu que as demais intervenções previstas no Orçamento deste ano ficarão para 2012. Segundo dados da execução orçamentária atual, a reserva de recursos mencionada por Kassab alcança apenas 22% do total previsto para o combate às enchentes na capital. Dessa verba, só 8,3% foram gastos efetivamente - ou R$ 57,1 milhões de um total de R$ 683 milhões”. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Em complementação, não nos choca, mas reforça a dura realidade, o conteúdo do estudo “Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas”, publicado por pesquisadores do INPE, IPT, UNESP, UNICAMP e USP. Um dos principais pontos da abordagem nos traz a seguinte perspectiva: “As maiores vulnerabilidades associadas a perdas humanas (durante o período de enchentes) localizam-se nos bairros periféricos, enquanto as maiores vulnerabilidades associadas a perdas econômicas e materiais se dão nos bairros consolidados”. Outro dado apontado pelo estudo é o que diz que, na zona sul, os locais que apresentam as piores condições de estrutura para encarar enchentes nos próximos anos incluem os distritos do Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo.

Concentrando-nos ao referido acima, é óbvio que o fenômeno das enchentes não se refere apenas a “excesso de chuvas”. Trata-se de uma questão estrutural, que historicamente foi deixada de lado – Afinal, existe uma enorme disparidade entre os níveis de estruturação entre bairros ocupados pela elite paulistana e os demais. Para se ter idéia, o governo estadual (de José Serra) gastou mais com publicidade em 2009 do que a prefeitura gastou entre 2006 e 2009 com obras anti-enchentes.

É bom lembrar que o fator mais relevante para que aconteçam os sucessivos desastres causados pelas enchentes refere-se a inoperância dos governos ao não formular políticas públicas para suprir à necessidade de moradia da população, que acaba ocupando áreas como várzeas e encostas (Altamente vulneráveis às chuvas). E o pior vem a seguir: É prevista uma piora sensível nos efeitos desse fenômeno, já que, a partir de um aquecimento global progressivo, haverá também um aumento na ocorrência de chuvas intensas. Para 2030, considerando a área de expansão de nossa região metropolitana, é esperado que aproximadamente 11,17% das novas áreas urbanizadas poderão se constituir em novas áreas de risco de deslizamentos.

As enchentes causam outros problemas não contabilizados, como a proliferação de doenças infecciosas tais como parasitas intestinais, dengue e leptospirose. Além das marcas nas paredes, as fortes águas das chuvas também marcam as vidas de todos os envolvidos nos incidentes: no ano passado foram mais de 12 mil pessoas desalojadas no Estado de São Paulo, sendo que mais de 2500 ficaram desabrigadas. Deixar para depois as ações que minimizam os riscos pode ser comparado a deixar um doente no hospital e esperar por sua morte.

Fonte: http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/megacidades.pdf

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/enchentes-o-descaso-publico-que-constroi-o-cenario-do-desastre

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