terça-feira, 25 de setembro de 2012

LITERATURA INFANTIL NA QUEBRADA - “O POTE MÁGICO”, DE FERRÉZ, É LANÇADO EM ONG DO JD. COMERCIAL

Começo da tarde de sexta-feira, 21 de setembro. Cai uma insistente garoa. A casa nº109 de uma viela do Jardim Comercial está toda decorada com bexigas e grandes murais pintados com guache e canetinha. Obra de arte das crianças que passam boa parte de seus dias em atividades da ONG Interferência.

O fato é que já haviam passado alguns minutos que mães e seus filhos admiravam o local todo enfeitado, mas eles estavam à espera de um evento diferente. Pensando bem, mais diferente pelas circunstâncias do que pelas pessoas que lá estavam, incluindo o protagonista da tarde. O escritor Ferréz estava a vontade, pois, apesar do reconhecimento que todos nutrem por seu trabalho, ele jamais será visto como um “Deus alienígena” em sua quebrada. E foi por lá que ele resolveu promover lançamento de seu novo livro infantil, “O Pote Mágico”.



Já consagrado por livros como “Manual Prático do Ódio”, “Capão Pecado” e “Deus Foi Almoçar”, o autor, já com seus 36 anos, volta a ser Reginaldo, seu nome de batismo. Soma-se a isso o fato de que cada criança da ONG Interferência o transporta, de alguma forma, para a sua infância, vivida ali mesmo no Jardim Comercial, segundo o próprio escritor faz questão de dizer.

Entre os presentes, muitos dos quais chegaram com ‘charmosos’ instantes de atraso, vale destacar pessoas que estão ligadas intimamente ao trabalho literário de Ferréz, entre eles o editor Marcelo Martorelli, a agente Marisa Moura e a editora da editora Planeta Infantil, Otacilia de Freitas. E todos eles demonstravam se alimentar dos encantamentos de uma infância prá lá de viva em suas memórias, como suas expressões insistiam em denunciar. A história de “O Pote Mágico” fala de um menino, que não se apresenta por nome, mas que vive a magia da descoberta, das brincadeiras fantasiosas, mas também reconhece as dificuldades que a vida impõe a um morador de periferia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência? A resposta é não. Ferréz, em seu livro, fala sobre sua própria infância, a compartilhando com os amigos de longa data que ali residem. “Esse livro conta um pouco da minha história. É a primeira vez que assumo essa relação numa obra minha. Dar o livro para estas crianças é realização de um sonho, até porque o que mais importa não é a venda do livro em si, mas fazê-lo chegar às mãos certas”, afirma Ferréz.




Um acontecimento como este lançamento merece atenção, ainda mais se levarmos em conta que representantes do mercado editorial brasileiro compareceram ao evento (ressalvando, mais uma vez, que tudo aconteceu na periferia). “Já existe um olhar especial do mercado editorial para regiões periféricas, em especial quando tratamos de publicações adultas. O próprio Ferréz, que foi contratado em virtude de literatura adulta, nos apresentou seu livro infantil, que foi aceito de imediato”, ressalta Otacília. A literatura infantil voltada para temática periférica ainda se encontra em fase embrionária, mas não há dúvida que, a partir de ações como esta, o futuro se torna cada vez mais otimista.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Periferialização Sociocultural

Já são inúmeros os autores que perceberam que uma Periferialização Sociocultural está viva e atuante. A sua voz já ecoa com mais força, principalmente através de uma cena cultural exuberante, e se fosse citar nomes, me faltaria espaço neste texto. Ela, inclusive, já se apropriou de alguns dos meios comunicacionais de massa para divulgar os seus ideais e, neste cenário, até mesmo as grandes emissoras de televisão notaram o inevitável: a periferia se tornou centro - Centro da cultura e de um novo pensamento de sociedade. Vide “Manos e Minas”, da TV Cultura, a participação de Alessandro Buzzo (onde ele mostra a movimentação cultural dos bairros mais afastados) e do quadro Parceiro SP no jornal SPTV, além da rádio 105FM nos brinda com programação recheada de Rap, Samba de Raiz, Reggae e informação. Não podemos nos esquecer da loja 1daSul, que proliferou o nome do Capão Redondo por todos os cantos de São Paulo através de seus bonés e adesivos. E neste período de afirmação da Periferialização Sociocultural, há os que fingem não percebê-la e os que não a percebem, de fato.

Hermano Vianna, antropólogo e escritor, já dissera, abordando a música e a tecnologia, que “país cultural oficial, mesmo o retratado na mídia de massa, parece uma pequena e claustrofóbica espaçonave, em rota de fuga por universos paralelos, cada vez mais afastado do país real, da economia real, da cultura da maioria”. Isso se torna visível, palpável e real na história de vários de nossos cidadãos, que cada dia mais se utilizam dos próprios meios para sobreviver economicamente, e nesta realidade, a cor do sangue, da pele, da bandeira política de nada vale frente a necessidade e criatividade, que precisa ser verdadeira e concreta.
O fato é que, mesmo diante de dados inquestionáveis, esta Periferialização Sociocultural é escondida, vetada de forma considerada sutil aos olhos dos atuais donos da famigerada “influência midiática”. Incluo neste pacote até mesmo dados que nós mesmos já publicamos anteriormente, no artigo chamado Falar, ouvir, entender e ser entendido”. Mas, pouco a pouco, seus olhos são forçados a enxergar esta realidade. Está cada vez mais difícil ignorar uma existência que, por si só, já cria um novo reduto social, cultural e econômico, desbancando a tradicional “indústria do dinheiro”. Vejam só: Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) de 2010 provam que há um declínio na diferença de renda média entre ricos e pobres, considerando o período entre 1985 e 2010. Somando-se a isso, a própria Pnad, em 2005, revelou que 52% da massa de renda brasileira está concentrada nas classes C, D e E, o que mostra que podemos ter menos dinheiro, mas somos muitos e se organizados somos nós que vamos liderar nos caminhos do futuro do país.
Toda a formatação desta Periferialização Sociocultural não é um acontecimento surgido diante de um inexplicável “fenômeno cósmico”, como costumam justificar os mais místicos. Tudo segue seu caminho graças à persistência de antepassados periféricos (muitos deles ainda tem o coração batendo), que diante de uma sociedade ainda mais desigual e cruel, permaneceram com atitude e coragem na manutenção de sua cultura e, mais do que isso, acreditaram no seu próprio potencial de estabelecer uma ordem que subverte o padrão histórico. Hermano Vianna citou o rap, um produto desta resistência: “O rap não foi uma invenção da indústria fonográfica, veio de fora e subjugou a indústria que teve que passar a trabalhar para propagar ainda mais seu “vírus”. Ao que tudo indica, a indústria vai desaparecer e o rap vai ficar cada vez mais forte e rico”.
O mais curioso é que, num lento processo, a periferia se transforma em centro, e suas “baladas”, que não são tão badaladas como as da Vila Madalena ou da Vila Olímpia, figuram com um diferencial: não são embaladas ao som comercial, daquele que vem encaixotado num formato que faz somente dançar segundo o seu ritmo. Aqui, nos Saraus ou nas apresentações artísticas regionais, o que se nota é uma migração no sentido contrário, onde os moradores dos bairros que antes eram os berços da diversão da noite ou do dia paulista, agora são os bairros dormitório de pessoas que querem conhecer uma cidade muito maior do que  aquilo que a televisão, o rádio e a imprensa conseguem retratar - é uma cidade dentro da cidade que tem um coração social e cultural que agora bate em ritmo mais forte.

Como descreve Hermano Vianna citando Racionais: “A periferia agora inclui o centro” e como exemplo disso, podemos citar o documentário institucional do SESC Santo Amaro, que associa a imagem de grandes nomes da periferia da Zona Sula a sua imagem, mostrando que o Sesc, apesar de estar em Santo Amaro, quer ser incluído na periferia, seja pelo Campo Limpo de Binho, o Piraporinha de Sergio Vaz, o Monte Azul de Tchê Araujo, e por todos os pequenos bairros culturais que formam a grande periferia, que, ironicamente eram parte de Santo Amaro (e que agora Santo Amaro quer fazer parte).  “Como cantam os Racionais MCs, ‘periferia é periferia, em qualquer lugar’. Essa letra é mais verdadeira do que nunca. Cada vez mais, a periferia toma conta de tudo. Não é mais o centro que inclui a periferia. A periferia agora inclui o centro. E o centro, excluído da festa, se transforma na periferia da periferia.” – Hermano Vianna.
Link para o documentário do Sesc Santo Amaro (Direção de Peu Pereira e apresentação de Zinho Trindade): http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=Qb-jWF9PwPI

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Atenção às Oportunidades Provenientes do ENEM em Meio A Era das Contradições

É chegada a era das contradições. Em meio a festejos, férias, verão, carnaval, volta às aulas, Big Brother e operações na cracolândia, é fácil identificar a aspereza com que estes fatores se dão. Uma tranqüila passada de olhos na versão digital de qualquer jornal diário já nos mostra isso. Enaltecimento e críticas ao carnaval; sem contar com os “incríveis” incêndios em quadras de algumas das escolas que disputarão prêmios pelo desfile mais “charmoso”. O Big Brother alimenta matérias, aumenta o IBOPE e, ao mesmo tempo, é um prato cheio para críticas de articulistas. É claro que, em toda e qualquer análise, é preciso que seja feita uma reflexão. E justamente por isso, é necessário sabermos filtrar as informações que a “era das contradições” insiste em nos trazer de forma saturada e, diga-se de passagem, com uma proposital dose de alucinógenos.

Manter a atenção as oportunidades educacionais pode render bons frutos: entramos em um importante período para quem fez o ENEM e espera iniciar o ano com uma vaga em universidades e faculdades credenciadas. É também o período de compra de materiais escolares para quem tem filhos na rede particular e, como acontece quase todo ano, podemos encontrar um aumento sensível no preço do material escolar.

Traçando um enfoque no que há de mais importante em termos educacionais neste período, é importante que haja atenção especial ao SISU 2012 (Sistema de Seleção Unificada) que, gerenciado pelo MEC, funciona como ferramenta de ingresso a Instituições Públicas de Ensino Superior, tendo como exigência a participação no ENEM 2011. Em conjuntura, futuros universitários podem também recorrer ao PROUNI, sendo este porta de entrada para bolsistas em universidades privadas.

Para ter acesso aos benefícios do SISU 2012 basta acessar http://sisu.mec.gov.br e efetuar inscrição. A senha para cadastro é a mesma do ENEM 2011, sendo que o prazo final será no dia 12/1.

O estudante inscrito no SISU tem direito a fazer duas escolhas de cursos, sendo um deles preferencial. Se o mesmo for selecionado em sua 2ª opção, tendo o candidato efetuado inscrição ou não em tal faculdade, ele permanecerá concorrendo a sua vaga de 1ª opção. A forma de seleção para as vagas ofertadas ocorre de acordo com a pontuação dos candidatos inscritos no ENEM ao final do período estipulado. Noventa e Cinco Instituições de Ensino Público Superior espalhadas por todo o Brasil são participantes do SISU 2012.

O PROUNI terá período de inscrição aberto no dia 14/1 (próximo sábado), com encerramento em19/1. O Programa Universidade para Todos é dirigido a estudantes que completaram o ensino médio na rede pública de ensino ou no ensino privado, desde que tenham sido bolsistas integrais e que tenham renda per capita familiar de, no máximo, três salários mínimos. O site do PROUNI é http://prouniportal.mec.gov.br, entretanto, é importante acessar http://siteprouni.mec.gov.br/documentacao.html, onde constam os documentos necessários na fase de comprovação dos requisitos para acesso as vagas.