terça-feira, 25 de setembro de 2012

LITERATURA INFANTIL NA QUEBRADA - “O POTE MÁGICO”, DE FERRÉZ, É LANÇADO EM ONG DO JD. COMERCIAL

Começo da tarde de sexta-feira, 21 de setembro. Cai uma insistente garoa. A casa nº109 de uma viela do Jardim Comercial está toda decorada com bexigas e grandes murais pintados com guache e canetinha. Obra de arte das crianças que passam boa parte de seus dias em atividades da ONG Interferência.

O fato é que já haviam passado alguns minutos que mães e seus filhos admiravam o local todo enfeitado, mas eles estavam à espera de um evento diferente. Pensando bem, mais diferente pelas circunstâncias do que pelas pessoas que lá estavam, incluindo o protagonista da tarde. O escritor Ferréz estava a vontade, pois, apesar do reconhecimento que todos nutrem por seu trabalho, ele jamais será visto como um “Deus alienígena” em sua quebrada. E foi por lá que ele resolveu promover lançamento de seu novo livro infantil, “O Pote Mágico”.



Já consagrado por livros como “Manual Prático do Ódio”, “Capão Pecado” e “Deus Foi Almoçar”, o autor, já com seus 36 anos, volta a ser Reginaldo, seu nome de batismo. Soma-se a isso o fato de que cada criança da ONG Interferência o transporta, de alguma forma, para a sua infância, vivida ali mesmo no Jardim Comercial, segundo o próprio escritor faz questão de dizer.

Entre os presentes, muitos dos quais chegaram com ‘charmosos’ instantes de atraso, vale destacar pessoas que estão ligadas intimamente ao trabalho literário de Ferréz, entre eles o editor Marcelo Martorelli, a agente Marisa Moura e a editora da editora Planeta Infantil, Otacilia de Freitas. E todos eles demonstravam se alimentar dos encantamentos de uma infância prá lá de viva em suas memórias, como suas expressões insistiam em denunciar. A história de “O Pote Mágico” fala de um menino, que não se apresenta por nome, mas que vive a magia da descoberta, das brincadeiras fantasiosas, mas também reconhece as dificuldades que a vida impõe a um morador de periferia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência? A resposta é não. Ferréz, em seu livro, fala sobre sua própria infância, a compartilhando com os amigos de longa data que ali residem. “Esse livro conta um pouco da minha história. É a primeira vez que assumo essa relação numa obra minha. Dar o livro para estas crianças é realização de um sonho, até porque o que mais importa não é a venda do livro em si, mas fazê-lo chegar às mãos certas”, afirma Ferréz.




Um acontecimento como este lançamento merece atenção, ainda mais se levarmos em conta que representantes do mercado editorial brasileiro compareceram ao evento (ressalvando, mais uma vez, que tudo aconteceu na periferia). “Já existe um olhar especial do mercado editorial para regiões periféricas, em especial quando tratamos de publicações adultas. O próprio Ferréz, que foi contratado em virtude de literatura adulta, nos apresentou seu livro infantil, que foi aceito de imediato”, ressalta Otacília. A literatura infantil voltada para temática periférica ainda se encontra em fase embrionária, mas não há dúvida que, a partir de ações como esta, o futuro se torna cada vez mais otimista.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Periferialização Sociocultural

Já são inúmeros os autores que perceberam que uma Periferialização Sociocultural está viva e atuante. A sua voz já ecoa com mais força, principalmente através de uma cena cultural exuberante, e se fosse citar nomes, me faltaria espaço neste texto. Ela, inclusive, já se apropriou de alguns dos meios comunicacionais de massa para divulgar os seus ideais e, neste cenário, até mesmo as grandes emissoras de televisão notaram o inevitável: a periferia se tornou centro - Centro da cultura e de um novo pensamento de sociedade. Vide “Manos e Minas”, da TV Cultura, a participação de Alessandro Buzzo (onde ele mostra a movimentação cultural dos bairros mais afastados) e do quadro Parceiro SP no jornal SPTV, além da rádio 105FM nos brinda com programação recheada de Rap, Samba de Raiz, Reggae e informação. Não podemos nos esquecer da loja 1daSul, que proliferou o nome do Capão Redondo por todos os cantos de São Paulo através de seus bonés e adesivos. E neste período de afirmação da Periferialização Sociocultural, há os que fingem não percebê-la e os que não a percebem, de fato.

Hermano Vianna, antropólogo e escritor, já dissera, abordando a música e a tecnologia, que “país cultural oficial, mesmo o retratado na mídia de massa, parece uma pequena e claustrofóbica espaçonave, em rota de fuga por universos paralelos, cada vez mais afastado do país real, da economia real, da cultura da maioria”. Isso se torna visível, palpável e real na história de vários de nossos cidadãos, que cada dia mais se utilizam dos próprios meios para sobreviver economicamente, e nesta realidade, a cor do sangue, da pele, da bandeira política de nada vale frente a necessidade e criatividade, que precisa ser verdadeira e concreta.
O fato é que, mesmo diante de dados inquestionáveis, esta Periferialização Sociocultural é escondida, vetada de forma considerada sutil aos olhos dos atuais donos da famigerada “influência midiática”. Incluo neste pacote até mesmo dados que nós mesmos já publicamos anteriormente, no artigo chamado Falar, ouvir, entender e ser entendido”. Mas, pouco a pouco, seus olhos são forçados a enxergar esta realidade. Está cada vez mais difícil ignorar uma existência que, por si só, já cria um novo reduto social, cultural e econômico, desbancando a tradicional “indústria do dinheiro”. Vejam só: Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) de 2010 provam que há um declínio na diferença de renda média entre ricos e pobres, considerando o período entre 1985 e 2010. Somando-se a isso, a própria Pnad, em 2005, revelou que 52% da massa de renda brasileira está concentrada nas classes C, D e E, o que mostra que podemos ter menos dinheiro, mas somos muitos e se organizados somos nós que vamos liderar nos caminhos do futuro do país.
Toda a formatação desta Periferialização Sociocultural não é um acontecimento surgido diante de um inexplicável “fenômeno cósmico”, como costumam justificar os mais místicos. Tudo segue seu caminho graças à persistência de antepassados periféricos (muitos deles ainda tem o coração batendo), que diante de uma sociedade ainda mais desigual e cruel, permaneceram com atitude e coragem na manutenção de sua cultura e, mais do que isso, acreditaram no seu próprio potencial de estabelecer uma ordem que subverte o padrão histórico. Hermano Vianna citou o rap, um produto desta resistência: “O rap não foi uma invenção da indústria fonográfica, veio de fora e subjugou a indústria que teve que passar a trabalhar para propagar ainda mais seu “vírus”. Ao que tudo indica, a indústria vai desaparecer e o rap vai ficar cada vez mais forte e rico”.
O mais curioso é que, num lento processo, a periferia se transforma em centro, e suas “baladas”, que não são tão badaladas como as da Vila Madalena ou da Vila Olímpia, figuram com um diferencial: não são embaladas ao som comercial, daquele que vem encaixotado num formato que faz somente dançar segundo o seu ritmo. Aqui, nos Saraus ou nas apresentações artísticas regionais, o que se nota é uma migração no sentido contrário, onde os moradores dos bairros que antes eram os berços da diversão da noite ou do dia paulista, agora são os bairros dormitório de pessoas que querem conhecer uma cidade muito maior do que  aquilo que a televisão, o rádio e a imprensa conseguem retratar - é uma cidade dentro da cidade que tem um coração social e cultural que agora bate em ritmo mais forte.

Como descreve Hermano Vianna citando Racionais: “A periferia agora inclui o centro” e como exemplo disso, podemos citar o documentário institucional do SESC Santo Amaro, que associa a imagem de grandes nomes da periferia da Zona Sula a sua imagem, mostrando que o Sesc, apesar de estar em Santo Amaro, quer ser incluído na periferia, seja pelo Campo Limpo de Binho, o Piraporinha de Sergio Vaz, o Monte Azul de Tchê Araujo, e por todos os pequenos bairros culturais que formam a grande periferia, que, ironicamente eram parte de Santo Amaro (e que agora Santo Amaro quer fazer parte).  “Como cantam os Racionais MCs, ‘periferia é periferia, em qualquer lugar’. Essa letra é mais verdadeira do que nunca. Cada vez mais, a periferia toma conta de tudo. Não é mais o centro que inclui a periferia. A periferia agora inclui o centro. E o centro, excluído da festa, se transforma na periferia da periferia.” – Hermano Vianna.
Link para o documentário do Sesc Santo Amaro (Direção de Peu Pereira e apresentação de Zinho Trindade): http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=Qb-jWF9PwPI

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Atenção às Oportunidades Provenientes do ENEM em Meio A Era das Contradições

É chegada a era das contradições. Em meio a festejos, férias, verão, carnaval, volta às aulas, Big Brother e operações na cracolândia, é fácil identificar a aspereza com que estes fatores se dão. Uma tranqüila passada de olhos na versão digital de qualquer jornal diário já nos mostra isso. Enaltecimento e críticas ao carnaval; sem contar com os “incríveis” incêndios em quadras de algumas das escolas que disputarão prêmios pelo desfile mais “charmoso”. O Big Brother alimenta matérias, aumenta o IBOPE e, ao mesmo tempo, é um prato cheio para críticas de articulistas. É claro que, em toda e qualquer análise, é preciso que seja feita uma reflexão. E justamente por isso, é necessário sabermos filtrar as informações que a “era das contradições” insiste em nos trazer de forma saturada e, diga-se de passagem, com uma proposital dose de alucinógenos.

Manter a atenção as oportunidades educacionais pode render bons frutos: entramos em um importante período para quem fez o ENEM e espera iniciar o ano com uma vaga em universidades e faculdades credenciadas. É também o período de compra de materiais escolares para quem tem filhos na rede particular e, como acontece quase todo ano, podemos encontrar um aumento sensível no preço do material escolar.

Traçando um enfoque no que há de mais importante em termos educacionais neste período, é importante que haja atenção especial ao SISU 2012 (Sistema de Seleção Unificada) que, gerenciado pelo MEC, funciona como ferramenta de ingresso a Instituições Públicas de Ensino Superior, tendo como exigência a participação no ENEM 2011. Em conjuntura, futuros universitários podem também recorrer ao PROUNI, sendo este porta de entrada para bolsistas em universidades privadas.

Para ter acesso aos benefícios do SISU 2012 basta acessar http://sisu.mec.gov.br e efetuar inscrição. A senha para cadastro é a mesma do ENEM 2011, sendo que o prazo final será no dia 12/1.

O estudante inscrito no SISU tem direito a fazer duas escolhas de cursos, sendo um deles preferencial. Se o mesmo for selecionado em sua 2ª opção, tendo o candidato efetuado inscrição ou não em tal faculdade, ele permanecerá concorrendo a sua vaga de 1ª opção. A forma de seleção para as vagas ofertadas ocorre de acordo com a pontuação dos candidatos inscritos no ENEM ao final do período estipulado. Noventa e Cinco Instituições de Ensino Público Superior espalhadas por todo o Brasil são participantes do SISU 2012.

O PROUNI terá período de inscrição aberto no dia 14/1 (próximo sábado), com encerramento em19/1. O Programa Universidade para Todos é dirigido a estudantes que completaram o ensino médio na rede pública de ensino ou no ensino privado, desde que tenham sido bolsistas integrais e que tenham renda per capita familiar de, no máximo, três salários mínimos. O site do PROUNI é http://prouniportal.mec.gov.br, entretanto, é importante acessar http://siteprouni.mec.gov.br/documentacao.html, onde constam os documentos necessários na fase de comprovação dos requisitos para acesso as vagas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A prisão pode estar em sua mente

Nossa sociedade é regida por economistas, o dinheiro é o centro de nosso mundo, a imprensa e a cultura são meros instrumentos do consumismo e do capital. No último sábado, em uma conversa informal com colegas de estudos vivenciei um exemplo muito claro disto: contava que visitaria uma penitenciaria no domingo e os comentários destes amigos diziam que eu era louco ou que eu faria algo sem sentido. Mas me pergunto quais seriam os comentários se eu dissesse que iria a um show de rock internacional ou a um Shopping Center? Acredito que conhecer a realidade de meu país, ou das estruturas da sociedade é quase uma obrigação de todos os brasileiros, por isto conhecer o “interior” do sistema carcerário sempre foi uma de minhas maiores necessidades.

Em um país que possui quase 184 milhões de pessoas, o Brasil possui quase 500 mil pessoas presas. Os dados do Departamento Penitenciário Nacional apontam que apenas 8% destas pessoas estudam. Segundo a lei de execução penal Lei Nº 7.210 o objetivo da prisão é: Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Apesar de a educação ser tema de quase todas as campanhas políticas, em São Paulo nenhum professor trabalha em penitenciárias, a educação é exercida apenas pelos presos.

Entretanto, estas informações são apenas números. Como poderia escrever sobre uma realidade não conhecida? Não é fácil para um jornalista entrevistar um preso ou conhecer o que acontece dentro de uma unidade prisional. Apesar de muitas pessoas pensarem que o objetivo da prisão é punir os presos e castigá-los de todas as formas possíveis, a lei e o bom senso dizem o contrário. De qualquer forma, um encarcerado sempre retornará (desde que não seja assassinado) para as ruas e precisa de todo o estímulo possível para que não volte a cometer crimes. Discursos da sociedade, o que inclui jornalistas, críticos e as pessoas que encontro nos mais diversos locais, mostra que muita gente ainda acredita que cuidar dos presos é uma obrigação somente do Estado. Mas como é que o Estado está preparando os encarcerados para voltar para a liberdade?

Depois de uma conversa informal com o escritor Ferréz, o mesmo comentou que iria a uma instituição prisional. Com todos meus questionamentos, acreditava que esta poderia ser a minha chance. Pedi a ele para acompanhá-lo nesta visita, que aconteceria na cidade de Guarulhos, na unidade chamada "José Parada Neto". Quando cheguei descobri que se tratava da cerimônia de encerramento de um projeto chamado “Como Vai Seu Mundo”, idealizado pelo Rapper Dexter, com o apoio do juiz corregedor da Comarca de Guarulhos, Jaime Garcia Jr. O evento foi arquitetado pelo Coletivo PESO e realizado pelo Instituto Crescer. Com a presença dos educadores que participaram do projeto, rappers e aberto a todos os presos da instituição, esta tarde se tornou uma das mais impactantes de minha vida.

Pouco a pouco, a cultura do Hip Hop mostra que o entretenimento não é seu único objetivo. Todos os participantes mostravam uma extrema alegria pela possibilidade de contribuir para uma sociedade mais segura, e, principalmente, para a preparação dos presos para o seu retorno a sociedade. Conversei com muitos presos, que também reconheciam a importância do curso e do evento. Alguns deles receberam o certificado de sua participação no projeto. Conversas me mostravam que a admiração dos presos não estava no simples fato destas pessoas estarem lá para contribuírem com seu desenvolvimento, mas por estas pessoas os respeitarem e os tratarem como seres humanos. Mais uma vez noto que o amor dá mais resultado que a dor e a violência.

Mas a situação dos presos no Brasil ainda está longe de ser boa. Só quem conhece o que se passa por dentro das grades e muralhas das prisões sabe o que estou falando. Tenho alguns amigos e conhecidos que já foram presos, ou que ainda estão; e por todos os relatos, entendo que, para que o preso não se torne reincidente, é necessário reinserir estas pessoas no mercado de trabalho, através de uma política de educação verdadeira nos ambientes prisionais. Em algumas penitenciarias existe a possibilidade do preso trabalhar ou/e estudar, de forma a reduzir sua pena. Mas nem tudo são rosas. Quase sempre o preso que trabalha não poderá estudar, ou vice versa, pois os horários destas atividades são simultâneas. Na penitenciária para os presos em regime fechado, chamada “Desembargador Adriano Marrey" - Guarulhos II, onde o horário em que as celas estão abertas das 8 às 16 horas, não existe a possibilidade de um preso estudar e trabalhar: o horário de trabalho é o mesmo do horário de estudos e não existe educação após as 16 horas. Neste tipo de sistema, todos perdem.

Um dos problemas que a impressa mais cita em suas matérias sobre a penitenciária é o uso do celular por presos, o que levou inclusive ao aumento dos procedimentos de revista para a entrada de familiares nos dias de visita. Mas não vejo o mesmo empenho da imprensa em entender os motivos dos encarcerados em continuar a utilizar estes aparelhos. Os presos no Brasil não têm direito de se comunicar com sua família ou com uma pessoa que pode o apoiar para a re-socialização - é o ponto cego que faz com que, na realidade, quase todas as penitenciarias tenham celulares, onde o principal objetivo é pedir ajuda; seja da roupa de cama, do chinelo de dedo a talvez uma pasta de dente, ou mesmo uma toalha. Para o Estado estas necessidades são menores, ou pouco importantes para recuperar uma pessoa privada de sua liberdade. Esta “indiferença” e faz com que muitos busquem uma solução para esta situação.

Discutir o que acontece dentro dos presídios pode contribuir para a sociedade, mas é preciso conhecer o que acontece nestas instituições para que os erros não se perpetuem por mais tempo. Alguns exemplos como o do rapper Dexter, que iniciou sua trajetória artística dentro da unidade prisional do Carandiru, mostram que o retorno para a sociedade tem que ser marcada por uma transformação de pensamento e não por punições aplicadas aos presos que violam os Direitos Humanos

Os Maiores Resquícios de “Privataria Tucana” – A Mídia em Xeque

Imagem retirada do Facebook
O último final de semana ficará marcado na história da política e do jornalismo brasileiro. E tudo acontecera em virtude da publicação do livro “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr., imediatamente seguido de repercussão em alguns veículos da mídia tradicional (TV, Rádio e Revistas, com destaque à Carta Capital e a emissora Record News) e principalmente na internet, tomando para si um teor apocalíptico. O material de Ribeiro Jr. é praticamente um dossiê detalhado da corrupção que cercou os processos das privatizações durante 1998 e 2002, período no qual Fernando Henrique Cardoso era presidente da república. Utilizando-se de documentos legítimos e dando nome aos “bois”, o autor fez que sua obra abalasse a credibilidade da grande mídia, além de estremecer o cenário político brasileiro.

Mais importante do que a própria publicação de Amaury Ribeiro Jr. são as reflexões sobre o papel da mídia e a influência que ela exerce sobre os cidadãos. O que ocorreu, e gritou aos ouvidos de quem acompanhou os acontecimentos decorrentes do lançamento de “A Privataria Tucana”, foi um silêncio (vejam a contradição) absurdo, que simplesmente ignorou o recorde de vendas de um livro sobre jornalismo durante as 24 horas de precederam seu lançamento. Daí é possível traçar um simples parâmetro da relação entre a mídia e o crime: As edições de hoje dos jornais O Estado de São Paulo e da Folha de São Paulo registraram 10 e 7 notícias relacionadas a crimes em seus cadernos “Metrópole” e “Cotidiano”, respectivamente. Destas nenhuma trouxe ao público denuncias sobre corrupção, evasão de divisas ou lavagem de dinheiro. Os jornais veiculados nos canais de televisão “Globo”, “Bandeirantes”, “SBT” e “RedeTV” abordaram o dia-a-dia da Esplanada sem se quer falarem sobre os efeitos pós-publicação do famigerado livro. Em contrapartida, a revista Veja publicou a matéria “A Trama dos Falsários”, ‘curiosamente’ funcionando quase como resposta aos documentos mostrados por Ribeiro Jr., que aponta, em proporções grandiosas, o envolvimento de políticos (e seus familiares) do PSDB em assombrosos esquemas de lavagem de dinheiro.

É inevitável, diante do silêncio da grande mídia sobre “Privataria Tucana”, deixar de associar o interesse dos dirigentes dos meios de comunicação ao jornalismo praticado pelos mesmos. O fato é que a mídia alternativa vem, cada vez mais, funcionando como verdadeira porta-voz do povo, já que dificilmente está atrelada financeiramente ou politicamente a qualquer instituição com fins ‘questionáveis’. O levantamento de tais suspeitas não se deve a uma excessiva confiabilidade aos argumentos de Amaury Ribeiro Jr., mas sim à notoriedade de tal publicação. Trata-se de um assunto que diz respeito, acima de tudo, ao dinheiro público. Nós, cidadãos, somos os maiores contribuintes para com o Estado, seja através de impostos ou uso dos serviços governamentais. Independentemente de conduta ou preferência política, vivenciamos um dos acontecimentos mais importantes na história recente do Brasil e, infelizmente, pouquíssimos representantes do jornalismo estão falando disso.

Uma forma amplamente competente de análise sobre a atuação da imprensa no caso “Privataria Tucana” é, conforme comentado pelo jornalista Washington Araújo no site do Observatório da Imprensa, um olhar sobre a pífia alternativa de, ao invés de pregar os preceitos da comunicação (imparcialidade, pluralidade de opiniões, etc.), requentar escândalos antigos, como se nada de novo tivesse acontecido. (Verifique o Caderno “Poder” da Folha de São Paulo).

Vale uma menção honrosa a versão humorística do caso no tablóide “The Piauí Herald”, vinculado ao site do jornal “O Estado de São Paulo”. Porque com humor, pode...


O Livro e a Pirataria

Passados apenas três dias do lançamento do livro de Ribeiro Jr., os mais assíduos leitores se depararam com uma leitura simples, mas que ao mesmo tempo cobra paciência para decorar instituições e pessoas envolvidas nos casos relatados. Impressiona o quanto são revelados detalhes das ações criminais, chegando ao ponto de serem citados até números de contas bancárias. Há uma menção ao “amadorismo” de certos envolvidos que, talvez por não se sentirem suficientemente ameaçados, não temeram assinar documentos tanto como procuradores de empresas situadas em paraísos fiscais, como também beneficiários de seus próprios depósitos bancários de dinheiro “lavado”.

Com uma tiragem inicial de 15 mil cópias, todas vendidas em menos de 24 horas, tomou forma o movimento de “pirataria” da obra. Não é raro encontrar versões do livro no formato PDF, disponibilizados de forma gratuita em blogs e compartilhados em redes sociais virtuais.


Jornal da Record (Record News)

http://www.youtube.com/watch?v=3dRZM6_xCmM


Jornal da Gazeta (TV Gazeta)

http://www.youtube.com/watch?v=JAt5dBgJVdM&feature=related



Comentário do Cineasta Jorge Furtado sobre o livro:

http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/privataria-tucana



Link Observatório da Imprensa:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed672_o_silencio_ensurdecedor_da_imprensa



Links: Humor:

http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/herald/brasil/serra-sorteia-aecio-no-amigo-oculto

Proibir a carona é a solução para crimes e acidentes?

A assembléia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou na noite de ontem uma lei no mínimo absurda, para não dizer preconceituosa, que proíbe motociclistas de levarem garupas durante os dias uteis em municípios com mais de 1 milhão de habitantes, além de também obrigar o motociclista a estampar o número da placa da moto no capacete e no colete com material refletivo.

O autor da lei o Deputado Estadual Jooji Hato (PMDB) afirma que a medida é feita para aumentar a segurança dos motociclistas, devido ao aumento de acidentes fatais envolvendo estes motoristas, e diminuir o número de crimes contra o patrimônio. A medida afetará apenas três municípios do Estado de São Paulo: São Paulo, Guarulhos e Campinas.

Os erros começam nos argumentos: o autor e os deputados que aprovaram a medida não levaram em consideração que a motocicleta é um dos principais meios de transporte da cidade e uma das únicas opções para os moradores das periferias de São Paulo. Outro ponto é que, ao retirar o carona eles não acabarão com os acidentes, mas sim, diminuirão uma prática que reduz o transito e desafoga o transporte público. Uma solução mais adequada para reduzir as fatalidades e os acidentes seria aumentar a quantidade de corredores para motocicletas, pois, com maior espaço para trafegar, a possibilidade de colisão de motocicletas com carros, ônibus e caminhões é reduzida. Nos acidentes, raramente as motocicletas colidem com outras motocicletas ou com objetos estáticos - quase sempre estão envolvidos carros, caminhões ou ônibus - mas as leis e medidas sempre envolvem as motocicletas.

O segundo argumento para aprovação da lei seria a diminuição da quantidade de crimes contra o patrimônio nos quais são utilizadas motocicletas, mas pouco se fala nas armas letais empregadas. O instrumento do crime não é a motocicleta e sim a arma de fogo, que circula livremente pelas cidades que serão afetadas pela nova lei. A venda de armas de fogo é amplamente facilitada pelas ações que envolvem o combate ao crime, onde a pena para o porte ilegal de armas de fogo é de 1 a 3 anos de pena, e geralmente não termina em prisão em regime fechado. Trata-se de uma lei muito branda, principalmente quando comparada, por exemplo, ao crime de tráfico de drogas, em que a pena é de 5 a 15 anos. Para evitar este tipo de delito o governo poderia ampliar os esforços para fiscalizar as milhares de motocicletas que circulam sem placas em todas as cidades, além de acabar com a corrupção nos DETRANs e em órgãos e empresas que fabricam e lacram as placas. Facilitar o reconhecimento de veículos utilizados para praticar delitos significa melhorar a vida de todas as pessoas, diminuindo o número de furtos e roubos de veículos. Esta nova lei, de autoria do Deputado Jooji Hato (PMDB), afetará principalmente pessoas que nunca praticaram crimes com motocicletas e, em muitos casos, são vítimas destes criminosos.

Outro ponto falho da lei é obrigar a aplicação dos números das placas das motocicletas em capacetes e coletes, pois o capacete não é de uso obrigatório em uma motocicleta especifica, ou seja, seria necessário comprar um capacete para cada moto utilizada e um capacete para cada motocicleta em que se pegar carona. Quanto ao uso de colete, este é obrigatório somente para motoboys. Como a lei do Deputado Jooji Hato não especifica quem deverá utilizá-lo, todos os motociclistas serão obrigados a utilizarem coletes refletivos, o que não faz nenhum sentido, tendo em vista que todas as motocicletas são fabricadas com diversas partes refletivas.

Essa lei, como tantas outras criadas para regulamentar os usos de motocicletas, foi redigida e aprovada por pessoas que não utilizam a moto como meio de transporte, o que faz com que abusos sejam aprovados e forcem os motociclistas a aceitarem sem ao menos serem consultados. Se sancionada pelo governador, esta lei contribuirá para o aumento da poluição, visto que agora somente uma pessoa poderá fazer uso deste meio de transporte nos dias úteis, e, pouco a pouco, estará criminalizando o uso da motocicleta ao associá-la diretamente a atividades criminais. Nunca pude acompanhar ou ter conhecimento de alguma lei que regulamentasse a circulação de aviões nas regiões produtoras de cana de açúcar, onde diariamente, toneladas de armas e drogas são trazidas de fora para dentro do país, nem tampouco limitar o uso de carros durante a noite para evitar a combinação de álcool e direção, evitando os homicídios dolosos e milhares de reais no atendimento a vitimas deste tipo de crime. Os nossos deputados estaduais deveriam se preocupar mais em criar leis para facilitar a vida da população e não aumentar os problemas. Combater o crime está totalmente relacionado a políticas sociais e a melhoria de nossas leis, que cada vez mais, criminalizam pessoas descentes e favorecem os famosos colarinhos brancos. (Incluindo juízes criminosos, que tem como pena máxima por qualquer crime cometido, a aposentadoria.)

Confira a nova lei e os argumentos do deputado Jooji Hato:
http://www.al.sp.gov.br/spl_consultas/consultaDetalhesProposicao.do?idDocumento=1011460#inicio

Falar, Ouvir, Entender e Ser Entendido

Baseio-me, em partes, no material trazido à tona pela profª Magda Soares, docente da UFMG, no livro Linguagem e Escola: uma Perspectiva Social. Neste estudo Magda fala sobre o fracasso escolar no Brasil, atribuído de forma enfática à distância existente entre a linguagem das camadas populares e a linguagem da classe dominante. Para ela, a escola tem por padrões a linguagem da classe detentora do poder econômico e, em momento algum, há um movimento para adaptá-la ao aluno das classes menos privilegiadas. Esse fenômeno acaba gerando falta de proximidade e sentido ao aprendizado. É um tema que, para mim, não é pertinente somente ao sistema educacional, mas à vida em si.

Não vou me ater à realidade nacional, por isso vou transpor tudo para o território de São Paulo. É fácil convir que a cidade em questão seja dividida em alguns mundos, onde questões culturais, sociais e lingüísticas demarcam suas fronteiras. Enfim; é difícil supor que exista uma unidade integradora nas relações que permeiam a convivência entre tais “mundos”.

Falar, ouvir, entender e ser entendido, na verdade, é um desafio. A problemática, no entanto, está na tentativa errante de aplicar conceitos de um mundo X num mundo Y. Os sucessivos fracassos da escola, da publicidade, da música e de tudo mais que tenta adentrar na realidade dos que possuem menor poder aquisitivo podem ser atribuídos a uma tentativa inútil de sobrepor uma cultura a outra. E isso ocorre porque uma minoria, que tem grande poder econômico, também detém os padrões disseminados pela mídia. Vivemos, por exemplo, em convívio direto com padrões estéticos que não condizem com a nossa própria genética. Se pegarmos o percentual de negros e pardos no distrito do Capão Redondo, temos 60% da população com estas características. Em contrapartida, quantos negros ou pardos figuram em telejornais ou propagandas? (Ouça link ao final e confira a seguinte informação: Não há presença de apresentadoras negras ou pardas em programas televisivos infantis!). No campo do ensino, percebemos que “a escola enquanto instituição mantém a mesma ossatura rígida e excludente já faz um século. Continua aquela estrutura piramidal, preocupada apenas com o domínio seriado e disciplinar de um conjunto de habilidades e saberes” – Miguel G. Arroyo, professor da UFMG. Temos lhe dar com proposições distantes do nosso cotidiano, que nos empurra uma cultura que se impõe a nossa. Não temos exemplificações da utilidade de um bom ensino, já que o mercado de trabalho também transborda preconceitos de todas as formas.

Voltemos então para a divisão dos “mundos” paulistas: o que ocorre é que nem sempre há uma vontade alheia de se ouvir e entender. Se não podemos contar com políticas públicas que nos assegurem a igualdade de vozes, as instituições privadas contribuem para a manutenção de uma cultura da exclusão: Os jovens formados no ensino público e jovens afro descendentes são os que mais sofrem com o desemprego nestas instituições, somando 23,8% de acordo com o IBGE.

Outro ponto de análise que prega a manutenção da cultura dominante é o fato de o marketing, a propaganda e a mídia funcionam como grandes formadores de opinião. Entretanto, devemos ter cuidado com a inversão de nossos valores e necessidades. Se por um lado queremos um mundo que nos ouça e respeite, é imprescindível que não nos deixemos dominar por agrados supérfluos. Se quisermos ser ouvidos e entendidos, precisamos saber falar e entender a nossa própria identidade.

Tendo como foco o apresentado acima, é fácil identificar tamanha dificuldade comunicacional entre os mundos paulistas: Há uma disparidade enorme na participação no jogo que envolve o falar, ouvir, entender e ser entendido, sendo que, da forma que se configura, o direito a expressão é totalmente cerceado. Neste diálogo de apenas uma voz, por enquanto vamos contando somente com os ouvidos...

Link:http://www.redebrasilatual.com.br/radio/programas/jornal-brasilatual/negros_visibilidade_comunicacao_trabalho.mp3/view