quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ENEM aponta problemas na educação de distritos da Zona Sul

Nacionalmente, os resultados do ENEM apontam alguns problemas e soluções aplicadas à educação, mas quando analisados regionalmente, os dados são alarmantes. Os números demonstram que a nossa educação ainda repete o processo de exclusão de nossa sociedade. Nos distritos do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis, que juntos possuem quase 89 mil pessoas entre 15 e 19 anos, a média de participação no ENEM dos alunos que concluíram o Ensino Médio foi de aproximadamente 31,85%. Das dez escolas mais bem colocadas, oito são particulares. No total foram avaliadas 78 escolas da região através dos resultados do ENEM, sendo que apenas 12 atingiram uma nota menor que a média nacional. Entretanto, devemos lembrar que para acessar o PROUNI (Programa Universidade para Todos), o aluno precisa atingir um resultado mínimo de 400 pontos, objetivo que todas as escolas locais conseguiram superar. Portanto, quase todos os alunos da rede pública ou particular poderiam concorrer às bolsas de estudo para cursar faculdades particulares, desde que fizessem o ENEM.

Quando apuramos os resultados dos distritos individualmente, o Jardim Ângela apresenta os piores resultados. O que pode explicar este fato é a total ausência de escolas particulares ou técnicas estaduais, além da menor renda per capita. Sua adesão ao ENEM também foi a menor da região (±20,5%), demonstrando que a escola não consegue esclarecer a importância do exame ao aluno e, principalmente, limita a possibilidade de ingresso na universidade através do PROUNI. Das 12 escolas com notas abaixo da média nacional 6 estão neste distrito. Da lista das 10 melhores avaliadas regionalmente, nenhuma delas está no Jardim Ângela. Apesar de contar com a maior população com idade entre 15 e 19 anos (aproximadamente 27 mil pessoas), o distrito não conta com grandes investimentos estaduais para a melhoria de sua educação.

O Campo Limpo, distrito com a melhor renda média entre os analisados, tem a melhor nota, a maior adesão, a melhor escola pública não-técnica (E.E. Presidente Kennedy – 4ª melhor escola da região e ocupa a 965ª nacional) e a segunda melhor particular da região (Colégio Guararapes). Nenhuma de suas escolas está abaixo da média nacional, mas dizer que a educação deste distrito é adequada seria uma ironia, pois a melhor escola da região está bem abaixo da melhor colocada da cidade de São Paulo, que possui nota superior em aproximadamente 100 pontos. Neste distrito 30% das escolas são particulares.

O Capão Redondo possui a instituição de Ensino Médio com os melhores resultados da região (Escola Perspectiva) e a maior quantidade de escolas entre as 10 melhores da região - 4 delas estão neste distrito, todas particulares. O dado mais preocupante desta região é a quantidade de alunos da rede pública que participou do ENEM, que gira em torno de 21,6% do total. Muito diferente é o índice de participação dos alunos das escolas particulares, onde mais da metade de seus alunos fizeram o exame. A escola pública com melhores resultados (E.E Prof. Leopoldo Santana) obteve uma nota média de 564,83 pontos, contando também com a maior adesão (39,5%). Mesmo assim ela está muito distante da melhor colocada do ensino privado - quase 100 pontos. Em contraste, seu resultado está apenas 5 pontos inferior ao da última colocada das particulares (Colégio Elias Maas).

Já a situação do Jardim São Luis mostra um resultado impressionante: diferente do que ocorre com os outros distritos, a instituição melhor avaliada é do ensino é pública (ETE Zona Sul), com os melhores resultados nas provas (628,1) e de adesão (83,1%). O segundo (São Luis Gonzaga III) e o terceiro (Colégio Elias Zarzur) colocados são particulares, seguidos por outra instituição pública (E.E Dona Zulmira Cavalheiro Faustino). As escolas públicas que apresentaram os melhores resultados possuem como característica comum sua localização próxima a marginal do Rio Pinheiros, evidenciando que os problemas educacionais estão nas localidaes mais afastadas do centro expandido da cidade de São Paulo que, conseqüentemente, recebem menores investimentos.

Após esta analise mais detalhada, podemos afirmar que os recursos públicos destinados a educação são tímidos comparados as necessidades da região. Com mais de 1 milhão de habitantes, contamos com apenas uma ETE (melhor escola pública da região), que está localizada ao lado da marginal do Rio Pinheiros. O famoso jargão de que o mercado pode melhorar a educação é um tanto errôneo, tendo em vista o caso do Jardim Ângela, que apesar de contar com maior população, não possui escolas particulares. O ideal para obtermos um patamar aceitável em termos educacionais seria a implantação de um projeto “CEU Ensino Médio”, criando novas instituições em regiões que apresentassem os piores resultados, com professores mais qualificados (com mais anos de instrução e melhor remunerados), como acontece nas ETEs. O Governo Federal também poderia contribuir com um salto em nossa educação, criando um novo campus do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO CIENCIA E TECNOLOGIA DE SAO PAULO no Jardim Ângela. A educação está diretamente ligada à renda média familiar, portanto, o principal responsável por essa lógica perversa são os empregadores, que remuneram mal o trabalho de pessoas com baixa instrução, que com recursos e tempo reduzidos, enfrentam maiores problemas para educar e criar seus filhos, repetindo a exclusão de geração para geração.

* Os dados com os resultados regionais completos podem ser baixados diretamente neste link