terça-feira, 20 de dezembro de 2011

As cores da juventude

Vivemos em um mundo que tenta nos confundir: a cada esquina uma nova informação, a cada cruzamento uma confusão. Como podemos decidir que caminho tomar sem ao menos ter a certeza de que é o caminho correto? Acredito que esta deve ser uma dúvida constante nos corações e mentes de jovens, adultos, idosos e crianças. Mas a história mostra que, quase sempre, os jovens indicam os caminhos que as próximas gerações devem trilhar. Para mostrar como surgem algumas mudanças na sociedade é que escrevo este texto.

No dia 3 de abril de 2011, um grupo de 12 grafiteiros foi preso por pintar as pilastras de sustentação da linha azul do metro da cidade de São Paulo, no trecho que se entende desde a estação Armênia até a estação Santana. Seria um fato comum se estes jovens artistas tivessem tentado evitar a policia e a justiça, se protegendo de complicações pessoais e uma ficha criminal. Mas a atitude foi de acompanhar os policiais a delegacia, e contatar um jornalista da Folha Online e contar o ocorrido. (Confira a notícia da Folha: http://migre.me/5SQXB )

Recentemente li um texto chamado: “A revolução não partirá do vão livre do Masp”, escrito por um jornalista da revista Carta Capital chamado Matheus Piconelli. Neste texto, o autor aponta uma característica crescente em manifestações públicas de nossa cidade: a falta de foco nas manifestações públicas. Mas apesar da triste realidade retratada pelo texto, alguns aprendizados ficaram em minha mente - é necessário ter preparação, foco e saber em qual terreno se pisa antes de se manifestar. (Confira o texto da Carta Capital: http://migre.me/5SQYG)

Você deve se perguntar: Mas o que existe em comum nas manifestações públicas que beiram o absurdo e a prisão destes grafiteiros? A explicação é simples - ambas as ações foram de contestação a questões incômodas da sociedade. Entretanto, os grafiteiros haviam se preparado durante anos trabalhando em suas obras, vivenciando a dura realidade de quem tenta sobreviver da arte e, principalmente, conhecendo de perto uma legislação que transforma artistas em contraventores ou criminosos. A preparação foi o diferencial; eles tinham em mente os riscos que estavam correndo ao expor suas obras nestes pilares e tinham se preparado para o pior, que de fato aconteceu: foram presos.

Mas a prisão destes jovens foi apenas o começo de uma mudança. O Governo do Estado de São Paulo e o Metro de São Paulo tiveram que intervir devido às noticias e às discussões que foram levantadas através delas. O que no início era feito apenas para substituir o “cinza” das pilastras, com formas e cores que estavam em suas mentes, pouco a pouco se transformava em uma mudança política. O secretario de Cultura, Andrea Matarazzo, entrou em cena e iniciou uma discussão com os artistas, e, por fim, criou na semana passada o 1º Museu de Aberto de Arte Urbana deste país. (Confira o vídeo do Jornal da Gazeta: http://migre.me/5SR0k )

No mês de maio deste ano conversei informalmente com um dos artistas detidos, o grafiteiro Ricardo AKN sobre o que havia ocorrido. Pouco a pouco levantamos questionamentos sobre como a internet permitiu aos moradores da periferia conseguir obter informações que antes não estavam a nossa disposição. AKN era um otimista, defendia que as pessoas hoje não podem mais ter conhecimentos limitados e que as informações estão disponíveis para todos. Eu não concordava com sua opinião e afirmava que nem todos recebiam uma base para aprender a buscar estas informações. O fato é que essas possibilidades de obter conhecimento na década de 90 não existiam e algumas pessoas das periferias entendem esta diferença e se motivam a estudar formalmente, ou se desenvolver a partir do conhecimento disponível da internet. Mas Ricardo deu um exemplo importantíssimo para qualquer morador da periferia de São Paulo, e principalmente para seu distrito, o Jardim Ângela - que o conhecimento e a preparação podem levar alguns indivíduos a transformar uma realidade inaceitável em um mundo melhor.

Parabéns AKN e a todos os grafiteiros que colorem as ruas desta cidade cinza!

Para quem quer conferir as obras de perto, aqui vai o endereço: Av. Cruzeiro do Sul, nº 1100 até 3100

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